O Percival Puggina escreveu um texto muito pertinente chamado “O Abortista”, cuja leitura, caso ainda não tenham feito, eu recomendo enfaticamente aos visitantes do Deus lo Vult!. Trata sobre um caso ocorrido há uns quinze dias atrás em Sapucaia do Sul, quando uma estudante universitária foi presa por tentativa de homicídio contra a própria filha recém-nascida.
O Puggina fala em aborto. As manchetes que encontrei – a própria do Zero Hora citada, esta d’O Globo, ou ainda esta do jornal NH – falam em parto. Como a criança nasceu prematura (com sete meses) e como a jovem obviamente não desejava a gravidez (dado que “escondeu o bebê dentro de uma bolsa, enrolado numa sacola plástica” após o seu nascimento!), acho a hipótese de aborto muito plausível. Até onde eu saiba, a recém-nascida está internada em estado de saúde grave; não encontrei notícias mais recentes sobre o ocorrido.
A afirmação do amigo do Puggina após saber que a mãe e o pai da criança haviam sido presos – “Estão presos, é? Que absurdo! Vê só o resultado dessas idéias de vocês! Tivessem feito esse mesmo aborto direitinho, num hospital, com assistência médica, nada disso teria ocorrido” – é a mais honesta expressão da mentalidade abortista. Qual a diferença entre a criança dentro da sacola plástica em Sapucaia do Sul e a criança dentro de um saco de lixo hospitalar após o aborto? Nenhuma – só a chance de sobrevivência do bebê que, fora do matadouro abortista, é um pouco maior -, e o interlocutor do Puggina sabe tão bem disso que não cora de vergonha ao dizer o que disse. Do aborto para o infanticídio a diferença é meramente o local onde é realizado o assassinato, se dentro do útero da mãe ou fora dele.
Uma mulher dessas deve ser punida? É óbvio que deve. Curiosamente, no entanto, não querem que sejam punidas as mulheres que assassinam os próprios filhos dentro do seu ventre. Tal irracional discrepância entre as posições tomadas diante de fatos que, em essência, são idênticos, é mais um sintoma da degeneração intelectual e moral que toma conta da nossa sociedade.
No debate sobre o aborto que assisti aqui em Recife, o advogado criminalista reclamava da exibição de fetos assassinados – produtos do aborto – cobertos de sangue que era feita à época dele nos debates sobre o aborto, alegando que não dava para debater o assunto com seriedade após o choque provocado por imagens tão fortes. Acontece que essas “imagens tão fortes” são exatamente o assunto que se está debatendo, de modo que não dá para debater sobre algo sem ter uma idéia clara do que está em discussão. Fosse num mundo mais afeito aos processos intelectuais – fosse na Idade Média -, provavelmente seria possível à enorme maioria das pessoas conceberem o que significa um aborto sem precisarem ver um. No nosso século desgraçado, contudo, onde as pessoas esqueceram como se pensa e só conseguem raciocinar sobre aquilo que vêem, mostrar o banho de sangue – pôr a descoberto o cadáver oculto – é fundamental.
No mesmo debate, a feminista da ONG pró-aborto dizia que a mulher pode ter “um projeto de vida” frustrado por uma gravidez indesejada, de modo que não seria justo que ela abdicasse dos seus sonhos por conta de um filho que ela não tinha então condições de criar. Citou até o exemplo de “terminar a faculdade”. Pois bem, esta jovem de Sapucaia do Sul era estudante universitária e certamente tinha “um projeto de vida” que viu ameaçado pela gravidez, de modo que decidiu abortar a filha e escondê-la, de pernas quebradas, dentro de uma bolsa. Não há “projetos de vida” que justifiquem a eliminação voluntária de uma vida inocente. A jovem de Sapucaia do Sul que encarna os sofismas da sra. Sílvia Regina está presa na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre. Querem os senhores abortistas discutir sobre o aborto? Discutam-no à luz deste triste caso ocorrido no Rio Grande do Sul!
Defender o aborto é ter um grave defeito intelectual e/ou moral. Não existe nenhuma condição de se tratar um abortista como se fosse uma pessoa na plena posse de suas faculdades mentais; ele não é. Todo abortista é capaz de “raciocinar” como o amigo do Puggina citado no artigo dele. E, diante de pessoas assim, às vezes a melhor coisa a fazer é mesmo mandá-las “para um lugar bem feio” e afastá-las das esferas de decisão da sociedade. É óbvio que quem defende que os assassinatos possam ficar impunes não tem nenhuma condição de legislar ou de julgar.