O próximo domingo já é o Domingo de Ramos e, até o presente momento, a CNBB não disponibilizou no seu site o texto-base da Campanha da Fraternidade 2011. Procurando na internet, encontrei-o aqui; 63 páginas que, pelo que vi, contêm a íntegra do documento. Caso alguém identifique algum problema na integridade do texto, gentileza me informar.
Como fiz nos anos passados (2010 e 2009), trago aqui mais uma vez algumas simples estatísticas mostrando os temas que, na visão dos responsáveis pela produção do referido documento, são mais dignos de menção e meditação durante este tempo quaresmal. Mais uma vez, trago-os divididos em dois grupos: o que se poderia esperar de uma sadia espiritualidade quaresmal primeiro e, em seguida, os vocábulos mais empregados ao longo das páginas do texto base da Campanha da Fraternidade. Como no ano passado, a metodologia foi a mais simples possível: uma pesquisa simples (ctrl + shift + f) no arquivo .pdf, que pode ser facilmente reproduzida por qualquer um que tenha curiosidade sobre o assunto. Na lista abaixo, o termo simples, entre aspas, foi pesquisado da maneira como se encontra; quando aparece “e derivados”, é porque a busca foi feita pelo radical (p.ex., “penit”, que incluiria tanto “penitência” quanto o verbo “penitenciar-se”, o adjetivo “penitente”, etc.).
Termos que indicam visão sobrenatural:
- “Deus”: 155 ocorrências.
- “Eucaristia”: 16 ocorrências.
- “Jesus”: 14 ocorrências.
- “Pecado” (e derivados): 11 ocorrências.
- “Papa”: 8 ocorrências.
- “Santificação” (e derivados): 7 ocorrências.
- “Católica” (e derivados): 6 ocorrências.
- “Bíblia”: 6 ocorrências [mais duas no título de duas citações, à página 32].
- “Salvação” (e derivados): 5 ocorrências.
- “Nosso Senhor”: 5 ocorrências.
- “Oração”: 4 ocorrências [sendo três nas primeiras páginas e uma referência à oração de São Francisco em louvor pelas criaturas].
- “Conversão” (e derivados): 4 ocorrências [além de mais 3 ocorrências, às páginas 14 e 37, que falam em conversão de energia cinética do vento (!) e no mundo que corre o “risco de converter-se em fábricas que poluem” (!!); há aínda, à página 43, uma referência a “conversão ecológica”].
- “Jejum”: 2 ocorrências.
- “Diabo”: 2 ocorrências.
- “Caridade”: 2 ocorrências.
- “Maria”: 1 ocorrência [“Virgem Maria”, nenhuma, e nem “Nossa Senhora”].
- “Penitência” (e derivados): 1 ocorrência.
- “Cruz”: 1 ocorrência.
- “Sacerdote”: 1 ocorrência.
- “Sacramento”: 1 ocorrência.
- “Missa”: 1 ocorrência [esta, no título da citação de um ensaio de Teilhard de Chardin (!)].
- “Arrependimento” (e derivados), esmola, Magistério, confissão (e derivados), inferno, purgatório: nenhuma ocorrência.
Termos que indicam visão materialista rasteira:
- “Produção” (e derivados): 98 ocorrências.
- “Desenvolvimento” (e derivados): 74 ocorrências.
- “Energia”: 69 ocorrências.
- “Terra”: 69 ocorrências.
- “Água”: 59 ocorrências.
- “Ambiente”: 59 ocorrências.
- “Efeito estufa”: 58 ocorrências.
- “Aquecimento”: 51 ocorrências [“aquecimento global”, 42].
- “Consumo” (e derivados): 50 ocorrências.
- “Ecologia” (e derivados): 37 ocorrências.
- “Carbono” (e derivados): 36 ocorrências.
- “Governo” (e derivados): 32 ocorrências.
- “Economia” (e derivados): 32 ocorrências.
- “Alimento” (e derivados): 29 ocorrências.
- “Pobre” (e derivados): 20 ocorrências.
- “Temperatura”: 23 ocorrências.
- “Lucro”: 15 ocorrências.
- “Petróleo”: 10 ocorrências.
- “Exploração” (e derivados): 10 ocorrências.
Os números falam por si sós. Em comparação com o ano passado algumas coisas parecem ter melhorado. Palavras como “Cruz”, “Sacerdote” e “Penitência” finalmente ganham direito a figurarem em um documento da CNBB para a Quaresma. E, embora eu tenha tentado, não consegui encontrar nenhum termo que aparecesse no texto mais vezes do que “Deus”. Deo Gratias! É também digna de menção a sucessiva redução do tamanho destes textos bases; em 2009 ele tinha 176 páginas e, em 2010, 80. Perto destes monstros, um documento com 63 páginas é uma bênção de Deus.
Entretanto, o resultado final ainda é muito, muito ruim. É óbvio que não dá para se viver corretamente o tempo da Quaresma descuidando da vida sobrenatural para perder tempo com coisas como consumo, energia elétrica, água potável e desenvolvimento – temas que têm lá a sua importância, mas que absolutamente não cabem como guia de vivência do tempo quaresmal. Um texto que trate tanto destes temas poderia encaixar-se muito bem como fruto de um estudo do Governo, de uma ONG, de uma dissertação de mestrado em ciências ambientais, do Greenpeace, de qualquer coisa: mas não cabe, absolutamente, como um texto – e da Quaresma! – da Igreja cujo papel é levar as almas para Deus. Quando uma Conferência Episcopal fala, na Quaresma, mais de petróleo do que de oração, alguma coisa está muito errada. Que os senhores bispos possam perceber este gravíssimo engano (que não é de hoje!) o quanto antes. E que Deus nos ajude a termos uma santa Quaresma – apesar da Campanha da Fraternidade da CNBB.