Após aborto, mulheres entram em hospitais como pacientes e saem indiciadas. Esta é a chamada pró-aborto de uma notícia daqui do Diário de Pernambuco da última segunda-feira. Ao longo da matéria, a crítica aos médicos que – supostamente – acionam as autoridades policiais após perceberem que suas pacientes tentaram cometer o horrendo crime do aborto.
Eu não vou nem comentar o notório viés da “pesquisa inédita” noticiada, que tem entre seus autores o abortista “Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero” (Anis) e em particular a dra. Débora Diniz, escancaradamente pró-aborto. Também não vou comentar a irrelevância estatística do estudo apresentado, que contou com o fantástico número de… 7 (isto mesmo, sete!) mulheres (!). Não sei, também, se o médico (ou qualquer outro profissional) realmente está impedido de chamar as autoridades policiais quando se depara com um crime diante de si.
Vou comentar somente um ponto que talvez passe batido à primeira leitura do texto. Refiro-me ao parágrafo que segue, contando a história de Joana (nome fictício), atualmente “com 27 anos, mãe de dois filhos”:
Depois do primeiro aborto, aos 16 anos, ela recorreu à prática mais três vezes, em um curto espaço de tempo. Chegou a tomar um preparo que incluía boldo e querosene, em certa ocasião. Hoje, casada, mãe de um garoto de 13 e uma menina de três, Joana faz um mea-culpa, mas explica que o desespero toma conta da mulher que se vê diante de uma gestação indesejada. “Acho que agiria diferente se fosse agora. Não sei se teria todos os filhos, mas evitaria engravidar. Naquela época, me faltava juízo”, diz a diarista, que atualmente não descuida do anticoncepcional. Ela acredita que ninguém passa por um aborto impunemente. “Não é por causa de religião, mas acho que um dia serei cobrada. O castigo começa na hora em que você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir.”
Do chocante exposto acima, nós podemos ver que:
i) trata-se de um procedimento amplamente banalizado, a ponto de uma garota fazê-lo quatro vezes (!) em “um curto espaço de tempo” (!) sem que ninguém pareça ter se importado minimamente com isso;
ii) Joana hoje em dia é mãe de dois filhos, o que foi sorte – uma vez que abortos podem provocar esterilidade;
iii) mesmo tendo provocado pelo menos quatro abortos, Joana se arrepende e diz achar que agiria diferente se fosse agora; o que faz com que seja uma tremenda vigarice apresentá-la como exemplo capaz de provocar clamor pela liberação do aborto no Brasil; e
iv) a garota descreve com uma frieza enojante – digna de alguma psicopatia – o procedimento de ocultação de cadáver do seu filho recém-assassinado: «você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir».
Se fosse algum maníaco sexual explicando em detalhes o procedimento de estupro de suas vítimas, a narrativa certamente feriria a susceptibilidade dos leitores e não seria veiculada. Se fosse um assassino explicando pormenorizadamente como se desfez do corpo de alguma vítima (p.ex., cortando em pedaços e jogando aos cachorros), muitos iriam se revoltar com esta frieza doentia. Ora, aqui nós temos uma mulher falando sobre como “se livrar” do cadáver de uma criança (o filho dela!) por ela assassinada! É sintomático que isto não provoque a indignação dos leitores do jornal. É um absurdo que clama aos céus uma confissão dessas ser utilizada para fazer a apologia do assassinato de crianças, pintando os criminosos como vítimas e tentando macabramente angariar-lhes simpatia. Quanto à criança, brutalmente assassinada e lançada no esgoto, com esta ninguém se importa, esta ninguém vê – contanto que não entupa o vaso sanitário. Que Deus nos perdoe.