Por um inusitado encadeamento de coincidências, quis a Providência Divina que eu assistisse, hoje, à Divina Liturgia de São João Crisóstomo celebrada na Igreja Ortodoxa Antioquenha. Nunca havia assistido a nenhuna celebração litúrgica diferente do Rito Romano (em suas duas formas). Sempre tivera vontade de conhecer a liturgia oriental. Hoje, o Altíssimo me atendeu.
A celebração deixou-me com uma curiosa e incômoda sensação: por um lado, o rito é extremamente diferente do Rito Romano. Por outro lado, mesmo com todas as diferenças, é enormemente mais parecido com uma Missa do que algumas aberrações litúrgicas que, infelizmente, no Rito Romano mesmo somos obrigados a presenciar. Sim, penso particularmente na “missa pré-balada” de Maringá sobre a qual tanto já foi falado aqui nos últimos dias.
Na Divina Liturgia há mais ministros (eu mesmo não fui capaz de identificar todos), há mais litanias, há mais procissões. O mais curioso, contudo, foi ver as coisas todas “fora de ordem”, em comparação com o Rito Romano. A epiclese vem depois da Consagração; a procissão do Ofertório nāo ocorre ao mesmo tempo da coleta das ofertas. A homilia é no final da Missa, imediatamente antes da comunhão. No entanto, mesmo assim, salta aos olhos o caráter sagrado com o qual se executa todo o rito. Quem assiste a Missa tem a impressão de estar realmente assistindo um ofício sagrado! Coisa bem diferente do que acontece quando se fazem badernas no Rito Romano.
Os ortodoxos mudam os arranjos dos símbolos, mas eles são, em essência, os mesmos. A casula é diferente, mas é uma casula. O turíbulo é diferente, mas é indiscutivelmente um turíbulo. As estolas cruzam-se de modo diverso, mas são estolas. Os candelabros são distintos dos usados no Rito Romano, mas são candelabros. Aliás, sobre estes últimos, são interessantes: os que são segurados pelos acólitos e levados em procissão têm, um deles, duas velas e, o outro, três. Não sabia disso, mas provavelmente significam, um, humanidade e divindade de Cristo e, outro, Trindade de Deus. Símbolos diferentes dos usados no Rito Romano: mas um mesmo objetivo, uma mesma harmonia, o mesmo caráter sagrado saltam aos olhos.
Já na “missa pré-balada” (e em todas as balbúrdias litúrgicas em geral), a ordem (cronológica) de cada uma das partes da Missa é mantida. No entanto, a ordem maior, a ordem da Liturgia (que tem seu fim em Deus) é totalmente destruída pela irreverência, pela profusão de elementos profanos, pela desarmonia, pelo ambiente descaracterizado. Na Divina Liturgia a ordem cronológica dos acontecimentos é outra, mas a ordem maior permanece inalterada: a Missa é Santa, dirige-se a Deus, a Ele conduz. Aos que querem “inovar” na Liturgia e que estão preocupados com as “mesmices” do Rito Romano, bem lhes faria bem procurar aprender sobre Liturgia Católica, antes de pôr as próprias idéias malucas em prática. Em particular, deveriam aprender a (farta) variedade litúrgica que já existe, desde sempre, na Igreja de Deus.