Sobre opiniões errôneas na interpretação dos decretos do Concílio Vaticano II [1966]

[Por incrível que pareça, foi publicada pela CNBB (in “Documenta: documentos da Congregacao para a Doutrina da Fe 1965-2010”, Brasília, Edições CNBB, 2011). Dir-se-ia de tal carta “profética”, se o mais provável não fosse que ela simplesmente apontava os problemas que já aconteciam em 1966 e que, desde então, generalizaram-se de uma maneira horripilante. Convém ser lida e relida, estudada e apresentada com vigor aos católicos dos dias de hoje! Rezemos pela Igreja.

Fonte: Cartas a Probo.]

CARTA SOBRE OPINIÕES ERRÔNEAS NA INTERPRETAÇÃO DOS DECRETOS DO CCONCÍLIO VATICANO II
Congregação para a Doutrina da Fé

Depois da promulgação do Concílio Ecumênico Vaticano II, concluído recentemente, sapientíssimos documentos, tanto sobre questões doutrinais, quanto disciplinares, para promover eficazmente a doutrina da Igreja, incumbem a todo o Povo de Deus a lutar com todo o empenho para que se realize tudo o que, com a inspiração do Espírito Santo, foi solenemente proposto ou decretado naquele sínodo de Bispos, presidido pelo Romano Pontífice.

À hierarquia compete o direito e o dever de vigiar, dirigir e promover o movimento de renovação que o Concílio começou, de modo que os documentos e decretos do referido Concílio recebam uma reta interpretação e sejam levados a efeito com exatidão segundo a força e o sentido dos mesmos. Portanto, esta doutrina deve ser defendida pelos Bispos, já que, como tais, gozam do poder de ensinar com autoridade, unidos à cabeça de Pedro. É digno de elogio que muitos Pastores do Concílio já tomaram a iniciativa de explicá-la convenientemente.

Sentimos, contudo, que de diversas partes chegam notícias de como não somente pululam os abusos na interpretação da doutrina do Concílio, como também de como aqui e ali surgem opiniões estranhas e audazes, que perturbam não pouco a alma de muitos fiéis. Devemos louvar os trabalhos ou intentos que buscam penetrar mais profundamente na verdade, distinguindo retamente entre aquilo em que se deve acreditar e o que é opinião; porém, pelos documentos examinados nesta Sagrada Congregação, consta que existem não poucas sentenças que, passando por alto facilmente os limites da simples opinião, parecem afetar o mesmo dogma e os fundamentos da fé.

Convém que expressemos, como exemplo, algumas das sentenças e erros, tal como são conhecidos através da relação de doutores e das publicações escritas.

1) Primeiramente, referimo-nos à Sagrada Revelação: há quem recorra à Sagrada Escritura, deixando de lado intencionalmente a Tradição, porém restringem o âmbito e a força da inspiração e da inerrância, já que pensam equivocadamente sobre o valor dos textos históricos.

2) No que se refere à doutrina da Fé, diz-se que as fórmulas dogmáticas devem ser submetidas à evolução histórica, de tal modo que o sentido objetivo das mesmas seja exposto a mudanças.

3) Esquece-se ou subestima-se o Magistério ordinário da Igreja, principalmente do Romano Pontífice, de tal maneira que se relega ao plano das coisas opináveis.

4) Alguns quase não reconhecem a verdade objetiva absoluta, firme e imutável, expondo tudo a um certo relativismo, alegando o falaz argumento de que qualquer verdade deve seguir necessariamente o ritmo da evolução da consciência e da história.

5) Ataca-se a admirável pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando, ao refletir sobre a Cristologia, utilizam-se tais conceitos de natureza e pessoa, que apenas podem se conciliar com as definições dogmáticas. Insinua-se certo humanismo pelo qual o Cristo é reduzido à condição de simples homem, que foi adquirindo pouco a pouco consciência de sua filiação divina, Sua concepção virginal, seus milagres e sua Ressurreição são concedidos de palavra, porém frequentemente reduzem-se à mera ordem natural.

6) Igualmente, ao tratar da teologia dos sacramentos, alguns elementos são ignorados ou não se lhes presta a suficiente atenção. Sobretudo no que se refere à Santíssima Eucaristia. Não falta quem discuta sobre a presença real de Cristo sob as espécies de pão e vinho, defendendo um exacerbado simbolismo, como se pão e vinho não se convertessem no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo pela transubstanciação, mas que simplesmente fossem empregados com certa significação. Há quem insista mais no conceito de ágape, com relação à missa, do que no de Sacrifício.

7) Alguns desejam explicar o Sacramento da Penitência como um meio de reconciliação com a Igreja, sem explicar suficientemente a reconciliação com Deus ofendido. Pretendem que, ao celebrar este Sacramento, não seja necessária a confissão pessoal dos pecados, mas somente se preocupem em expressar a função social da reconciliação com a Igreja.

8) Não falta quem menospreze a doutrina do Concílio de Trento sobre o Pecado Original, ou quem a interprete obscurecendo a culpa original de Adão ou, ao menos, a transmissão do pecado.

9) Não são menores os erros que circulam no âmbito da teologia moral. Com efeito, não poucos se atrevem a refutar a razão objetiva da moralidade; outros não aceitam a lei natural e defendem, por outro lado, a legitimidade da chamada “moral de situação”. Propagam-se opiniões perniciosas sobre a moralidade e a responsabilidade em matéria sexual e matrimonial.

10) A todos estes temas, temos de acrescentar uma nota sobre o Ecumenismo. A Sé Apostólica, certamente, louva todos os que, no espírito do Decreto Conciliar sobre o ecumenismo, promovem iniciativas para fomentar a caridade com os irmãos separados e atraí-los à unidade da Igreja; porém lamenta que não falte quem, interpretando a seu modo o decreto Conciliar, exija uma ação ecumênica que vá contra a verdade, assim como contra a unidade da Fé e da Igreja, fomentando um perigoso irenismo e indiferentismo, que é totalmente alheio à mente do Concílio.

Espalhada esta classe de erros e perigos, apresentamo-los sumariamente, nesta Carta aos Ordinários do lugar, para que cada um, segundo seu cargo e ofício, cuide de refreá-los e preveni-los.

Este Sagrado Dicastério roga encarecidamente para que os Ordinários do lugar tratem disso nas reuniões de suas conferências episcopais e enviem relações à Santa Sé, aconselhando o que creem oportuno, antes da festa da Natividade de Nosso senhor Jesus Cristo do ano em curso.

Esta carta, que, por uma óbvia razão de prudência, nos impede de fazê-la de domínio público, deve ser guardada sob estrito segredo pelos Ordinários e por todos aqueles que com justa causa a ensinam.

Roma, 24 de julho de 1966.
A. Card. Ottaviani,
Pró-prefeito.

Ainda sobre ecumenismo

Sobre alguns comentários feitos no meu post da semana passada (Tomás de Aquino e o Ecumenismo), eu gostaria de aproveitar a oportunidade para dizer quanto segue:

1. Não disse que a Unitatis Redintegratio era a Mortalium Animos em uma nova roupagem. Mas digo, agora, que é o seu “complemento”, e obviamente não pode ser lida desconsiderando a carta encíclica de Pio XI. Enquanto a MA tem o seu foco na condenação do Ecumenismo-Irenista e, en passant, fala sobre a única verdadeira união possível, a UR tem o seu foco nesta única verdadeira união possível e, en passant, lembra a condenação do Ecumenismo-Irenista. Não é uma nova roupagem, mas é – digamos – o outro lado da moeda.

2. Eu bem sei que a maior parte das pessoas, católicas ou não, encaram o ecumenismo conciliar de um modo distinto deste – e de um modo, aliás, condenável. Mas este não é o ponto, porque o sentido de um documento da Igreja é aquele que a Igreja lhe dá, e não outro; menos ainda quando este “outro” é frontalmente contrário àquilo que a Igreja sempre pregou e prega.

3. Não é novidade para ninguém que existem inumeráveis abusos no que se refere ao Ecumenismo; poder-se-ia, aliás (é necessário constatar) dizer que a maior parte das atividades que encontramos sob o título de “evento ecumênico” são, precisamente, um irenismo [bem ou mal] disfarçado de evento católico. Isto, no entanto, quer dizer somente que a Doutrina da Igreja é desrespeitada; e isto nós vemos o tempo inteiro, não havendo aqui nenhuma novidade. Os erros têm que ser combatidos de onde quer que eles venham. O pároco que chama o herege protestante para fazer uma homilia na Santa Missa está tão errado quanto o que nega a Presença Real de Nosso Senhor na Santíssima Eucaristia, pouco importa o nome que um ou outro dê ao que pensa estar fazendo.

4. A questão terminológica é de somenos importância. É perfeitamente claro que “união” significa “conversão”, porque outro modelo de união não é possível (e já foi incontáveis vezes condenado); em contrapartida, “comunhão imperfeita” ou “não estar em plena comunhão” aplica-se aos hereges e cismáticos. O exemplo dado pelo cardeal Levada, aliás, para falar em fruto do Ecumenismo, foi o retorno dos Anglicanos à Igreja Católica – em relação ao qual não existe possibilidade de se falar em irenismo ou coisa do gênero.

5. Falou-se em Taizé. Não conheço quase nada da comunidade e, do pouco que conheço, sinceramente não gosto. No entanto, não me parece nada que a mera “convivência pacífica” ad aeternum entre católicos e hereges seja o objeto dos elogios pontifícios, e nem – muito menos! – que se elogie isso sob o nome de Ecumenismo. Insisto: o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé apontou a Anglicanorum Coetibus, e não Taizé, como exemplo de Ecumenismo – precisamente contra as acusações (ao menos tácitas) de que o movimento ecumênico não deveria aspirar à união católica.

6. Falei que o Ecumenismo apresentado pela Igreja foi a resposta dada pela Esposa de Cristo aos legítimos desejos de unidade que experimentavam os protestantes, e vou mais além na comparação: a Igreja chegou aos hereges como São Paulo aos pagãos. “Aquele que adorais sem conhecer, eu vo-Lo anuncio”, disse o Apóstolos das Gentes; “aquilo que desejais sem o saber como é possível, eu vo-lo mostro e ofereço”, disse a Igreja aos hereges de Edinburgh. Ou por acaso o Espírito Santo não pode responder às orações legítimas dos hereges sinceros, conduzindo-os assim à Igreja? “Quereis união?”, disse a Igreja aos pais do moderno movimento ecumênico; “vinde, que só em Meu seio é possível encontrá-la!”.

7. Esforcemo-nos, portanto, como foi dito, para desfazer os erros e equívocos de onde quer que eles venham. Já basta de tolerar o irenismo com base em uma deturpação da doutrina católica.

A atualidade das mensagens de Fátima

Muito interessante o discurso de Dom Manoel Pestana na Conferência sobre Fátima, que o Fratres in Unum traduziu e transcreveu. Sobre o Vaticano II e a sua relação com as profecias de Fátima.

Realmente, é necessário convir que parece que o Papa Bento XVI modificou recentemente o status quaestionis sobre as profecias de Fátima. No ano 2000, quando o Vaticano divulgou pela primeira vez a profecia, o então cardeal Ratzinger disse o seguinte:

Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que «os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do “segredo” de Fátima parecem pertencer já ao passado». Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado.

E, recentemente, em Fátima, o Papa Bento XVI afirmou quanto segue:

Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída.

O que pensar das duas declarações? Penso o seguinte:

1. A interpretação dada pela Congregação para a Doutrina da Fé no ano 2000 jamais pretendeu ser definitiva. Isso se depreende da própria frase utilizada no documento, com o “parecem pertecer já ao passado”, e também da própria natureza do objeto tratado. Posso estar enganado, mas não me consta que interpretações de profecias – i.e., de revelações privadas – possam ser objeto de definição solene magisterial. Isto contrariaria, salvo melhor juízo, o próprio conceito de “revelação privada”.

2. Já em 2000, fazia-se referência à actualidade da mensagem de Fátima. Logo em seguida à frase acima citada, o então cardeal Ratzinger acrescentava que “permanece (…) a exortação à oração como caminho para a «salvação das almas», e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão”.

3. Parece ser exatamente neste sentido que o Papa falou em Portugal, recentemente. Afinal, logo depois de dizer que a “missão profética de Fátima” não está concluída, o Papa acrescenta: “O homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… Na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima”.

Em suma, o que me parece? Que há dois erros opostos a serem evitados: de um lado, descartar as aparições e as mensagens da Mãe de Deus como alguma coisa que “já passou” e, portanto, não tem mais importância para o homem moderno; e, do outro lado, fixar-se em supostas revelações apocalípticas que anunciam uma catástrofe iminente pesando sobre nossas cabeças. Concedo que há incontáveis nuances entre os dois extremos, fazendo toda a nossa vida espiritual gravitar em torno disso. Entendo também que os que procuram ver uma relação entre Fátima e a crise atual da Igreja não necessariamente são adeptos dos que dão valor exagerado às aparições da Mãe de Deus. Em uma palavra: entendo que é possível “ultrapassar” a interpretação oficial do ano 2000 e acreditar em presentes e futuras tribulações como parte dos segredos de Fátima, sem que com isso se deixe de ser um bom católico.

Parece-me, aliás, ser este o sentido da conferência de Dom Manoel Pestana – ou, pelo menos, que o discurso do bispo emérito de Anápolis enseja estas considerações. De qualquer modo, a crise da Igreja é real, como reais são as promessas da Virgem em Fátima: “no fim, Meu Imaculado Coração triunfará”. Rezemos à Virgem por este triunfo que – aqui, imagino não haver discórdias – ainda não ocorreu. Que Ela venha em socorro à Igreja. Que Ela vença, mais uma vez, e vença depressa, para a maior glória de Deus e salvação das almas.

Nossa Senhora de Fátima,
rogai por nós.

Os dois chifres do Diabo

Devido ao emprego de um humor por vezes grosseiro demais, não posso recomendar sem restrições o (não obstante, genial) blog do Frei Clemente Rojão. Mas este post sobre o padre à moda antiga merece ser lido e divulgado. Descontem as grosserias. Em particular, o seguinte trecho foi muito bem dito:

O Diabo tem dois chifres. Com um chifre, ele ataca a Igreja pelas novidades. Com o outro, ele ataca pelas velharias. Satã não tem preferência, desde que te atire no inferno… Para uns, ele deseja a desobediência pela novidade. Para outros, ele deseja a desobediência pela resistência às ordens de mudança.

E as alfinetadas, ao longo de todo o texto, são muito boas. O bom frei se refere a “quem se acha no direito de declarar estado de necessidade por conta própria”, ao “[p]aradoxo supremo da obediência, tão obedientes que desobedecem”, à “desobediência luciferina [que] renega a bela teologia que trazem nos lábios”.

Lembro-me de ter escrito, há algum tempo, algo sobre a desobediência de Lúcifer aqui. E, o que eu disse então, repito-o tranqüilamente agora:

O pecado de Satanás, seguido por Adão e Eva, apresenta-se sob muitas formas nos nossos dias. “Obediência co-responsável” é desculpa furada de quem não quer obedecer; condenar a “obediência cega” é a semente do orgulho começando a desabrochar. Sempre é possível inventar exemplos e mais exemplos de situações hipotéticas nas quais o homem estaria realmente dispensado da obediência e ainda nas quais obedecer cegamente seria um pecado; mas quando esta hipótese é aplicada amiúde em situações concretas que não guardam com os exemplos aventados senão uma vaga e forçada semelhança, então nós temos um sério problema: nós temos a repetição do non serviam primordial sob uma nova roupagem. Afinal, aquele que é capaz de “se transfigura[r] em anjo de luz” (IICor 11, 14) também é capaz de dar ao seu brado rebelde uma aparência de virtude.

E é muito fácil perceber que não há sombra de legalismo nisso – ao contrário, rejeitar a rebeldia dos que se arvoram “mais católicos do que o Papa” é uma mera questão de bom senso. Vejamos: todos concordam que a obediência é uma virtude e, para ser quebrada, é necessário haver graves motivos. Ora, para justificar uma desobediência pública, explícita e reiterada à Suprema Autoridade de Governo da Igreja, para que haja a supressão do munus regendi eclesiástico, para que seja lícito recusar-se à jurisdição da Igreja, o único motivo grave a este ponto seria algum “estado de necessidade” em que a salvação da própria alma estivesse em risco. Por menos do que isso, não há justificativa para se desobedecer. Até aqui, imagino que também todos concordem.

Mas, ora, se a desobediência fosse a única solução (afinal, para ela ser lícita, ter-se-iam que haver esgotados os outros meios…) para salvar a própria alma, seguir-se-ia necessariamente daí que, quem obedecesse à Igreja, estaria a caminho do Inferno. Ou seja, a Igreja visível de Nosso Senhor, a Cidade situada sobre o monte, o Farol que ilumina os homens e lhes ensina o caminho da Salvação, ter-se-ia convertido em seu perfeito contrário: em um vórtex negro que atrai as almas para o Inferno e do qual precisa fugir quem desejar ser salvo. Não creio ser preciso demonstrar que esta posição é blasfema. Portanto, não há justificativa para a desobediência.

Em suma: a desobediência à Igreja só se justificaria se ela – a desobediência – fosse necessária à salvação. Mas aqui chegamos a uma situação irredutível: porque afirmar que tal obediência é necessária é transformar a Igreja na Sinagoga de Satanás (onde se condenam todos os que A seguem), e negar a necessidade dessa obediência é reconhecer que não é lícito desobedecer. Et tertium non datur.

É difícil obedecer. Às vezes, é particularmente doloroso. É extremamente tentador fazer as coisas por conta própria, “do nosso jeito” – isto é tão tentador que derrubou até mesmo Lúcifer do alto dos Céus, quando o pecado nem havia entrado no mundo ainda e não havia ninguém rondando por aí “para perder as almas”! Acaso a tentação que fez cair Lúcifer não poderá também derrubar a mim?

Afastemo-nos com vigor de tão diabólica tentação. Que a Virgem Santíssima seja em nosso favor, e nos ajude, e não nos deixe jamais entregues a nós mesmos – pois, por nós mesmos, fatalmente iremos cair miseravelmente. Que o factus oboediens de Nosso Senhor possa ser sempre imitado por nós. E que São Miguel Arcanjo nos defenda do combate, precipitando no Inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas.

http://freirojao.blogspot.com/2010/05/um-padre-moda-antiga-obediencia-e-muito.html

Diversos sobre pedofilia

1. Laicínicos usando a pedofilia para tacar pedra na Igreja: Presidente do TJ-SP comete gafe ao falar sobre pedofilia. Oras, “gafe” uma ova. Agressão gratuita, preconceito anti-católico, ofensa vulgar – isso sim. Com este tipo de comentário preconceituoso e ofensivo, no entanto, ninguém parece se preocupar.

2. “Cristãos” usando a pedofilia para tacar pedra na Igreja: Pedofolia (!) nas Igrejas Cristãs. Uma mistureba: o texto fala do Hamas, dos senhores de engenho, de Luiz Mott, da “Igreja africana”, de pastores acusados de pedofilia  e muito mais. Define-se o site da seguinte singela maneira: “[o] CNNC é a única organização cristã do Brasil que defende a Afrocentricidade, Panafricanismo e Cristianismo de Matriz Africana e acreditamos no Yeshua Preto”. Sem comentários.

3. Católicos usando a pedofilia para tacar pedra na Igreja: Quo Ibimus? Um desabafo sincero, que começa na pedofilia mas vai parar… no Vaticano II! “Enfim, adianta agora reclamar do que está acontecendo na Igreja e no mundo? Ou será que pensamos que a ‘crise da Igreja’ começou agora com os casos de pedofilia? A crise já existe há muito tempo! Ela foi instaurada nos anos 60 e fomos nós (Igreja) que a alimentamos. Agora sofremos as conseqüências”. E tome pôr tudo na conta do Concílio…

4. Aborto e pedofilia, enfim um texto decente – de S. E. R. Dom Fernando Saburido. “A pedofilia na Igreja, uma vez comprovada, deverá ser combatida com urgência e determinação para evitar maiores prejuízos. O que não se admite é querer colocar como causa o celibato religioso e sacerdotal, exigido pela Igreja para os que se consagram. O celibato é uma vocação, dom de Deus, assumido espontaneamente para que haja total disponibilidade para o serviço do reino. Não é a Igreja que acolhe pedófilos. Estas pessoas com disfunções psicológicas ingressam na Igreja e, no celibato, tentam encobrir suas tendências e maus hábitos”.

Uma carta aberta a Hans Küng – por George Weigel

Original: First Things
Tradução: Fabiano Rollim

Uma carta aberta a Hans Küng

21 de abril de 2010

Por George Weigel

Dr. Küng,

Há uma década e meia atrás, um ex-colega seu, um dos mais jovens teólogos progressistas no Vaticano II, contou-me sobre uma advertência amigável que lhe teria feito no começo da segunda sessão do Concílio. Essa pessoa, hoje um eminente catedrático em Sagradas Escrituras e defensor da reconciliação judaico-cristã, lembrava como, naqueles dias conturbados, você o levou para dar uma volta por Roma em um Mercedes vermelho conversível, o qual seu amigo presumiu ter sido um dos frutos do sucesso comercial de seu livro, The Council: Reform and Reunion [1].

Seu colega considerou aquela exibição automotiva um chamariz de atenção imprudente e desnecessário, dado que algumas de suas opiniões mais aventureiras, e seu talento para o que mais tarde seria conhecido como “frases de efeito”, já estavam levantando sobrancelhas e causando frio em espinhas na Cúria Romana. Então, conforme me foi contado, seu amigo o chamou à parte um dia e disse, usando um termo francês que vocês dois entendiam, “Hans, você está ficando muito évident.” [2]

Como alguém que, sozinho, inventou um novo tipo de personalidade global – o teólogo dissidente que se transforma em estrela da mídia internacional – acredito que você não tenha ficado muito incomodado com a advertência de seu amigo. Em 1963, você já estava determinado a traçar um caminho singular para si, e conhecia a mídia suficientemente bem para saber que uma imprensa mundial obcecada com a história peculiar de um teólogo sacerdote dissidente daria a você um megafone para seus pontos de vista. Você deve ter ficado triste com o saudoso João Paulo II por ter tentado desmantelar aquele enredo ao retirar seu mandato eclesiástico para ensinar como professor de teologia católica; sua subsequente acusação rancorosa de uma suposta inferioridade intelectual de Karol Wojtyla, em um volume de suas memórias, tornou-se, até recentemente, o ponto mais baixo de uma carreira polêmica na qual se tornou évident que você é um homem pouco capaz de reconhecer inteligência, decência ou boa vontade em seus oponentes.

Eu digo “até recentemente”, entretanto, porque sua carta aberta aos bispos do mundo, de 16 de abril, que li primeiramente no Irish Times, estabeleceu novos padrões para aquela forma distintiva de ódio conhecida como odium theologicum e para a condenação maldosa de um velho amigo que, ao ser elevado ao papado, foi generoso com você ao encorajar aspectos de seu trabalho atual.

Antes de chegarmos ao assalto à integridade do Papa Bento XVI, entretanto, permita-me observar que seu artigo deixa terrivelmente claro que você não tem prestado muita atenção às questões sobre as quais se pronuncia com um ar de infalibilidade que faria corar as bochechas de Pio IX.

Você parece displicentemente indiferente ao caos doutrinal que cerca a maioria do protestantismo europeu e norte-americano, o qual criou circunstâncias nas quais um diálogo ecumênico teologicamente sério ficou gravemente ameaçado.

Você considera como verdadeiras as acusações mais irracionais feitas a Pio XII, evidentemente sem levar em conta que o recente debate entre os estudiosos está fazendo a balança pender a favor da coragem daquele Papa na defesa dos judeus europeus (independentemente do que se queira pensar a respeito de sua prudência).

Você erra ao representar os efeitos do discurso de Bento XVI em Regensburg, em 2006, rejeitando-o como tendo “caricaturado” o Islã. Na verdade, o discurso em Regensburg focou novamente o diálogo católico-islâmico nas duas questões que precisam ser urgentemente abordadas – a liberdade religiosa como um direito humano fundamental que pode ser conhecido pela razão, e a separação da autoridade religiosa e política no estado do século vinte e um.

Você não mostra qualquer compreensão a respeito do que realmente previne a AIDS na África, e se agarra ao desgastado mito da “superpopulação” em um momento onde as taxas de natalidade estão caindo ao redor do globo e a Europa está entrando em um inverno demográfico criado conscientemente por ela mesma.

Você parece alheio à evidência científica que subscreve a defesa que a Igreja faz do status moral do embrião humano, ao mesmo tempo em que acusa falsamente a Igreja Católica de se opor à pesquisa com células-tronco.

Por que você desconhece essas coisas? Obviamente você é um homem inteligente; você chegou a fazer um trabalho pioneiro em teologia ecumênica. O que aconteceu com você?

O que aconteceu, creio eu, é que você perdeu seus argumentos a respeito do significado e da hermenêutica correta do Vaticano II. Isso explica porque você insiste incansavelmente em sua busca cinquentenária por um catolicismo protestante, precisamente no momento em que o projeto liberal protestante está desmoronando de sua inerente incoerência teológica. E é por isso que agora você se envolveu em uma torpe difamação de outro ex-colega do Vaticano II, Joseph Ratzinger. Antes, porém, de abordar essa difamação, permita-me comentar brevemente sobre a hermenêutica do Concílio.

Ainda que você não seja o expoente mais completo, teologicamente falando, daquilo que Bento XVI chamou de “hermenêutica da ruptura” no discurso à Cúria Romana no Natal de 2005, você é, sem dúvida, o representante de maior visibilidade internacional daquele grupo idoso que continua a insistir em que o período de 1962 a 1965 marcou um caminho sem volta decisivo na história da Igreja Católica: o momento de um novo começo, no qual a Tradição seria destronada de seu lugar de costume como fonte primária de reflexão teológica, sendo substituída por um cristianismo que paulatinamente deixaria “o mundo” estabelecer a agenda da Igreja (como num mote que o Conselho Mundial de Igrejas utilizava na época).

A luta entre essa interpretação do Concílio e aquela defendida por padres conciliares como Ratzinger e Henri de Lubac dividiu o mundo teológico católico pós-conciliar em grupos contendedores representados por duas revistas: a Concilium para você e seus colegas progressistas, e a Communio para aqueles que vocês continuam a chamar de “reacionários”. O fato de que o projeto Concilium se tornou cada vez mais inviável com o tempo – e que uma geração mais nova de teólogos, especialmente na América do Norte, passou a gravitar na órbita da Communio – não deve ter sido uma experiência feliz para você. E o fato de que o projeto Communio moldou decisivamente as deliberações do Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, convocado por João Paulo II para celebrar os resultados alcançados pelo Vaticano II e avaliar sua plena implementação no vigésimo aniversário de seu encerramento, deve ter sido outro baque.

Ainda assim arrisco dizer que a espada entrou mesmo em sua alma quando, em 22 de dezembro de 2005, o recém-eleito Papa Bento XVI – o homem cuja indicação para a faculdade teológica de Tübingen você tinha ajudado a conseguir – dirigiu-se à Cúria Romana e sugeriu que a disputa tinha acabado: e que a “hermenêutica conciliar da reforma”, que presumia continuidade com a Grande Tradição da Igreja, tinha prevalecido sobre a “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”.

Talvez, enquanto você e Bento XVI bebiam cerveja em Castel Gandolfo no verão de 2005, você de alguma forma tenha imaginado que Ratzinger tinha mudado de idéia nessa questão central. Obviamente ele não tinha. Por que você chegou a imaginar que ele poderia aceitar sua visão sobre o que significaria uma “constante renovação da Igreja”, francamente, é um mistério. Também sua análise sobre a situação católica contemporânea não se tornou nem um pouco mais plausível quando se lê, mais adiante em seu recente artigo, que os papas recentes têm sido “autocratas” em relação aos bispos; de novo, é de se pensar se você tem prestado atenção suficientemente. Pois parece evidente e claro que Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI têm sido dolorosamente relutantes – alguns diriam, desafortunadamente relutantes – em disciplinar bispos que se mostram incompetentes ou com má conduta e que por isso perderam a capacidade de ensinar e de liderar: uma situação que muitos de nós esperam que mude, e mude logo, à luz das recentes controvérsias.

De certa forma, naturalmente, nenhuma de suas reclamações sobre a vida católica pós-conciliar é nova. Entretanto, parece mesmo muito contraditório, para alguém que realmente se importa com o futuro da Igreja Católica como uma testemunha da verdade de Deus para a salvação do mundo, insistir no ponto a que você persistentemente nos insta: que um catolicismo credível percorra o mesmo caminho traçado nas décadas recentes por várias comunidades protestantes que, conscientemente ou não, seguiram uma ou outra versão de seus conselhos para adotar uma hermenêutica de ruptura com a Grande Tradição Cristã. A propósito, essa é a singular posição que você ocupou desde que um de seus colegas se preocupou em você estar muito évident; e já que essa posição lhe manteve évident, pelo menos nas colunas de jornais que compartilham sua visão sobre a tradição católica, imagino ser demais esperar que você mude, ou mesmo aperfeiçoe, seus pontos de vista, mesmo se cada pedacinho de evidência empírica à disposição sugerir que o caminho que você propõe é o caminho da decadência para as igrejas.

O que pode ser esperado, em vez disso, é que você se comporte com um mínimo de integridade e decência nas controvérsias nas quais se envolve. Entendo o odium theologicum tão bem quanto qualquer um, mas tenho de, com toda a franqueza, dizer-lhe que em seu recente artigo você cruzou uma linha que não devia ser ultrapassada, quando escreveu:

“Não há como negar o fato de o sistema de ocultamento posto em prática em todo o mundo diante dos crimes sexuais dos clérigos ter sido engendrado pela Congregação para a Doutrina da Fé romana sob o cardeal Ratzinger (1981-2005)”.

Isso, senhor, não é verdade. Recuso-me a acreditar que você sabia que isso era falso e mesmo assim o tenha escrito, pois isso significaria que você conscientemente se condenou como um mentiroso. Mas assumindo que você não sabia que esta sentença era um punhado de mentiras, então você é tão notoriamente ignorante a respeito de como a competência por casos de abuso eram designadas na Cúria Romana antes de Ratzinger ter tomado o controle do processo e trazido o mesmo para competência da CDF em 2001, que perdeu toda a possibilidade de ser levado a sério a respeito deste ou de qualquer outro assunto que envolva a Cúria Romana e o governo central da Igreja Católica.

Como talvez você não saiba, tenho sido um crítico vigoroso e, assim espero, responsável a respeito de como casos de abuso foram (mal) conduzidos por bispos e autoridades na Cúria até o fim da década de 1990, quando o então Cardeal Ratzinger começou a lutar por uma mudança significativa no tratamento desses casos. (Se estiver interessado, consulte meu livro de 2002, The Courage To Be Catholic: Crisis, Reform, and the Future of the Church [3].)

Por isso, falo com algum conhecimento de causa quando digo que sua descrição a respeito do papel de Ratzinger, conforme citado acima, não é apenas burlesca para quem quer que esteja familiarizado com a história, mas contradita pela experiência de bispos americanos que sempre viram em Ratzinger alguém cuidadoso, disposto a ajudar e profundamente preocupado com a corrupção do sacerdócio por uma pequena minoria de abusadores, e ao mesmo tempo aflito com a incompetência e má conduta de bispos que levaram a sério, mais do que deviam, as promessas da psicoterapia ou que não tiveram a hombridade de confrontar o que tinha de ser confrontado.

Sei que não são os autores que redigem os subtítulos, algumas vezes horríveis, que são colocados em colunas de jornal. Apesar disso, você foi o autor de uma peça tão ácida – em si mesma completamente inapropriada para um sacerdote, um intelectual, ou um cavalheiro – que permitiu que os editores do Irish Times resumissem seu artigo da seguinte forma: “O Papa Bento piorou tudo o que já era errado na Igreja Católica e é diretamente responsável por engendrar o ocultamento global do estupro de crianças perpetrado por sacerdotes, de acordo com esta carta aberta a todos os bispos católicos.” Essa falsificação grotesca da verdade demonstra aonde o odium theologicum pode levar um homem. Mas de qualquer forma isso é vergonhoso.

Permita-me sugerir que você deve ao Papa Bento XVI um pedido público de perdão pelo que, objetivamente falando, é uma calúnia que, assim rezo, tenha sido formada em parte por ignorância (ainda que por ignorância culpável). Garanto-lhe que sou a favor de uma profunda reforma na Cúria Romana e no episcopado, projetos que descrevo até certo ponto no livro God´s Choice: Pope Benedict XVI and the Future of the Catholic Church [4], uma cópia do qual, em alemão, ficarei feliz em enviar-lhe. Mas não há caminho para a verdadeira reforma na Igreja que não passe pelo íngreme e estreito vale da verdade. A verdade foi trucidada em seu artigo no Irish Times. E isto significa que você atrapalhou a causa da reforma.

Com a garantia de minhas orações,

George Weigel

George Weigel é Membro Sênior do Centro de Ética e Política Pública de Washington, onde ocupa a cadeira William E. Simon em estudos católicos.

Artigo original em inglês disponível em: http://www.firstthings.com/onthesquare/2010/04/an-open-letter-to-hans-kung

Traduzido por Fabiano Rollim

———————————-

[1] N. do T.:“ O Concílio: Reforma e Reunião” – livro não publicado no Brasil.

[2] N. do T.: Évident: aparente, evidente, notável.

[3] N. do T.: “A Coragem de Ser Católico: Crise, Reforma e o Futuro da Igreja” – livro não publicado no Brasil.

[4] N. do T.: “A Escolha de Deus: O Papa Bento XVI e o Futuro da Igreja Católica” – livro não publicado no Brasil.

Carta aberta para todos os cristãos – pe. Eugenio Maria

Com um pouco de atraso, publico – na íntegra – a corajosa “Carta aberta a todos os cristãos” do revmo. pe. Eugenio Maria, FMDJ. Os negritos e itálicos são do original que recebi, por email. O reverendíssimo sacerdote fala sobre diversos assuntos, com extrema pertinência e um raro poder de concisão. Em particular, a seguinte fase sobre o celibato é lapidar, e bem poderia ser gravada em letras garrafais na entrada de todos os seminários, e enviada para todos os “católicos” que militam pela abolição desta santa disciplina:

O problema verdadeiro é que o celibato vai contra a idéia que existe hoje de um sexo “não repressivo”, um sexo “sem preconceito” e a persistente existência do celibato é uma censura para o mundo ocidental hedonista.

Segue a carta. E que, neste ano sacerdotal, a Virgem Santíssima nos conceda santos sacerdotes.

* * *

Na carta aos cristãos da Irlanda o Papa fala para uma Igreja ferida e desorientada pelas notícias relativas aos padres pedófilos. Denuncia com voz fortíssima os “crimines abnormais”, “vergonha e desonra”, a violação da dignidade das vítimas, um golpe vibrado contra a Igreja “de tal modo a que não tinham chegado nem os séculos de perseguição”. Em nome da Igreja “exprime abertamente vergonha e remorso”. Enfrenta o problema do ponto de vista do direito canônico, reafirmando com força, como foi a “falta de aplicação” por parte de alguns Bispos e não as suas normas, a causar tanta vergonha. Assim como também a vida espiritual dos sacerdotes, cujo desleixo está na raiz do problema, e aos quais o Santo Padre pede a volta através da Adoração Eucarística, das Santas Missões e da prática freqüente da confissão. Se estes remédios forem tomados a sério, é possível que a Providência, que sabe tirar o bem também do mal, poderá, neste Ano Sacerdotal, levar os sacerdotes “para uma estação de renascimento e renovação espiritual”, mostrando ao mundo que “onde abundou o pecado superabundou a Graça” (Rom.5,20). Doutro lado, ninguém deve pensar que esta penosa situação possa resolver-se em tempo breve.

Todavia, o Papa oferece elementos de interpretação desse problema, que certamente não é especifico nem da Irlanda nem da Igreja. Bento XVI indica “os graves desafios à fé, nascidos de uma rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa”. “Verificou-se – explica o Papa – uma rápida mudança social, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos”. Daí começou uma rápida descristianização da sociedade que entrou também no interior da Igreja: “a tendência também por parte de sacerdotes e religiosos, de adotar modo de pensamento e de julgamento da realidade secular, sem suficiente referimento ao Evangelho”. O programa de renovação proposto pelo Concilio Vaticano II foi às vezes mal interpretado. Muitas vezes, as práticas sacramentais e devocionais que sustêm a fé e as tornam capazes de crescer, como, por exemplo, as confissões freqüentes, as orações cotidianas e os retiros anuais, foram abandonados. É neste contexto geral de “enfraquecimento da fée de perda de respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos que devemos compreender o desconcertante problema do abuso sexual sobre os menores.

E o Papa Bento continua na sua reflexão: É verdade que as normas do Direito Canônico foram violadas, é verdade também que a vida de piedade de muitos sacerdotes ficou morna; por que isso aconteceu? E o Papa volta a falar de uma incompreensão dos documentos do Concilio Vaticano II por parte do Clero e, de modo especial, pelos Bispos, principais responsáveis pelo rebanho a eles confiado, que levou a uma secularização não só do mundo, mas também da Igreja. De fato, está claro para todos que existiu um relaxamento no crer, no se sentir Igreja e no comportamento dos cristãos. Desde o divórcio ao aborto e à homossexualidade, os governos e as leis que os regem não respeitam mais os preceitos das Igrejas Cristãs.

O ano de 1968 parece o tempo de uma perturbação dos costumes, que iniciou escavando sulcos profundos não somente na sociedade, mas também dentro da Igreja e, de fato, foi propriamente em 1968 o ano da dissensão pública contra a Encíclica “Humanae Vitae” de Paulo VI. O que houve de errado? Para mim, aquela tomada de posição até de eclesiásticos gerou uma crise de autoridade da qual dificilmente existirá retorno.

No inicio dos anos 90, um teólogo católico podia escrever que a “revolução cultural” de 1968 não foi um fenômeno que se abateu fora da Igreja, ao contrário, essa revolução foi preparada e introduzida pelos fermentos post-conciliares do catolicismo; se assim não fosse “permaneceriam incompreensíveis as crises e os fermentos internos do catolicismo post-conciliar”. O Teólogo em questão era o Cardeal Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé.

Várias hipóteses se deram a respeito daquele fenômeno, entre outras aquela de Alan Gilbert, segundo o qual a revolução dos anos 60 foi o boom econômico, que contribuiu para afastar as pessoas das Igrejas; e aquela de Callum Brown, segundo o qual foi decisiva a difusão da ideologia feminista, do divórcio, da pílula anticoncepcional e do aborto.

Na minha modesta opinião, somente esses fatores não poderiam explicar uma revolução tão grande. Sem dúvida alguma contribuiu o boom econômico e o feminismo, mas também aspectos mais estritamente culturais presentes fora da Igreja e dentro das comunidades cristãs, como o encontro entre “marxismo e psicanálise” e o nascer das “novas teologias”.

Bento XVI, na sua carta se mostra consciente de que existiu uma verdadeira revolução não menos importante que a Reforma Protestante e a Revolução Francesa, que foi rapidíssima e que assestou um duro golpe na tradicional adesão do povo ao ensino e aos valores católicos.

No Brasil tivemos um grande pensador católico, que não é muito apreciado pela maioria dos intelectuais católicos de esquerda, como também por vários Bispos da teologia da libertação, Plínio Corrêa de Oliveira, que falou de uma quarta revolução que penetrou “in interiore homine” capaz de desorganizar não só o corpo social, mas até o corpo humano.

A Igreja Católica não conseguiu entender a gravidade desta revolução que contagiou, segundo Bento XVI, “também sacerdotes e religiosos”, determinou incompreensões na interpretação do Concilio e causou uma “insuficiente formação humana e espiritual nos seminários e nos noviciados”. É claro que nem todos os sacerdotes e religiosos não formados suficientemente caíram na homossexualidade ou na pedofilia: sabemos com certeza absoluta, estatísticas nas mãos, que uma minoria verdadeiramente exígua caiu em tal depravação, embora gostássemos que fosse zero o número de homens da Igreja que se mancharam de tais graves delitos.

Mas a história da Quarta Revolução da qual falamos é importante para entender o que aconteceu depois, pedofilia inclusa e para encontrar remédios concretos.

Se esta revolução, como falava Plínio Corrêa de Oliveira, à diferença das precedentes revoluções, é moral e espiritual e toca, portanto, a interioridade do homem, então, somente da restauração da vida espiritual e de uma verdade integral da pessoa humana, poderão brotar os verdadeiros remédios. Para fazer isso, não bastam sociólogos, psicólogos e psiquiatras, são necessários Padres, Mestres e educadores Santos. Necessitamos do Papa, deste Papa que ainda uma vez diz a verdade na Caridade e pratica a caridade na verdade!

A questão dos padres e dos religiosos que abusaram de menores está ocupando muitas páginas dos jornais e também tempo da televisão. Justamente ficamos indignados por tais obscenidades e certamente aqueles que não vigiaram atentamente o rebanho que o Senhor Jesus lhe tinha confiado, Cardeais, Bispos, Superiores, padres espirituais, mestres dos noviços… deveriam igualmente ser punidos com extrema severidade (não basta trocar de paróquia,  para fazer-nos entender…). Dito isso, paremos de acusar sempre o mesmo imputado: a Igreja Católica e olhemos seriamente de onde vem a maioria absoluta desses fatos devassos.

Partamos da realidade e coloquemos de lado a ideologia. A pedofilia, infelizmente, sempre existiu como forma de perversão de algumas personalidades doentes. No século XV, na França, foi celebérrimo o acontecimento de Gilles de Rais: homem de origem nobre lutou ao lado de Joana dArc, confessou ter cometido repetidamente violência e abusos de menores. Gilles, verdadeiramente arrependido, caminhou contente para o patíbulo. Depois dele os pedófilos continuaram a existir, mas com um inegável crescimento neste último período da história; dizem-no as crônicas e os tribunais de menores. As violências contra menores, até bebês, são feita por pais, padrastos, madrastas, tios e amigos da família.

A explicação desse aumento, eu acredito que está certamente nesta nossa cultura sempre mais decadente, no qual o sexo se torna mania, uma obsessão contínua: é transmitido a cada momento do dia na TV, nos jornais, na internet, entra nas escolas onde à criança de quarta série se fala do ato sexual, encobrindo tudo como educação sexual. Doloroso é depois para mim aqueles programas que utilizam as crianças nos seus espetáculos de show: meninos metidos a pequenos divos, empenhados em cantar canções sedutoras se não até transgressivas. Obrigado Marta Suplicy por este progresso que tanto decanta cada vez que se torna a “paladina” dos gays, lésbicas e simpatizantes. Obrigado pela cultura que oferece aos brasileiros.

Queremos sempre fingir que a pedofilia seja o problema de alguns padres e não da sociedade como um todo. Queremos somente focar nos 17 casos de violência contra menores cometidos por religiosos e denunciados pelo governo austríaco e fazer de conta que não existem os outros 510 casos denunciados pelo mesmo Governo, cometidos por leigos nos mais diferentes ambientes? Assim como na Alemanha, desde 1995 foram denunciados 210 mil casos de abusos e somente 95 são imputáveis a religiosos. Dos outros silenciamos, não queremos fazer justiça? Será porque estão implicadas personalidades públicas e da política?

O “Corriere della Sera on line” do mês de março de 2010 apresentou 500 sites web com violências sexuais contra menores, de 3 a 12 anos, em menos de duas horas, denunciados pela associação “Meter onlus”, de um sacerdote italiano, que tive a honra de conhecer Don Di Noto, que há anos combate contra a pedofilia. Isso para dizer que na rede internet circula sempre com maior freqüência esse material pornográfico que leva muitas mentes fracas à emulação e que são origens de muitas ações criminais. Contudo, não se fala muito dessas coisas, aliás, parece que não interessam a ninguém: nem aos jornalistas nem aos políticos.

Da mesma maneira, ninguém se indignou quando, na Holanda, nasceu o partido dos pedófilos. A Holanda, como se sabe, é um país extremamente livre, extremamente laicizado, talvez por isso se possa perdoar-lhe tudo: da invasão islâmica, à droga livre, ao divórcio relâmpago, à perversão sexual difusa. Contudo, o nascimento do NVD (amor do próximo, liberdade, diversidade), devia fazer-nos refletir mais. Tal partido, de fato, reivindica a difusão na TV de pornografia (infantil e não) também durante o dia e a liceidade do sexo com meninos e animais, como simples variações dos gostos sexuais do tipo: você gosta assim, eu gosto assado!

Talvez não seja a mesma mensagem mais ou menos veiculada por muitos políticos da teoria do “gender”? Não é aquilo que se ouve dizer sempre mais vezes, isto é, que ninguém tem o direito de dizer o que é o amor verdadeiro, o que é família, o que é moral e o que não é? Não se diz sempre mais freqüentemente que ninguém tem o direito de limitar a livre sexualidade de qualquer pessoa? O relativismo triunfante de hoje afirma exatamente isso, muitas vezes contra aquela que chamam de a sexo-fobia católica. Não finjamos não entender!

No fim destas breves considerações sobre uma certa cultura atual que defende qualquer liberdade sexual, inclusive a pedofilia, seríamos hipócritas se ficássemos pasmos diante dos atos de pedofilia. Estudei em uma escola católica que tem hoje mais de cem anos e nunca ouvi falar de algum abuso sexual; contemporaneamente, era um fato conhecido que em uma escola estatal os professores faziam entender às moças, que apreciavam e premiavam as “mini saias”, que tinham comportamentos ambíguos e faziam apreçamentos pesados em voz baixa e, às vezes, em voz alta. O Cume destes acontecimentos foi o caso de um professor que teve um relacionamento sexual com uma aluna que depois se suicidou. Aquele professor, por anos, continuou a lecionar naquela escola, sem que ninguém o perturbasse. Naquela mesma escola, um sacerdote que ensinava religião, foi acusado de ter inclinações pedófilas. Uma senhora se apresentava todos os dias na frente da escola para acusá-lo. Explicou aos juízes, que a condenaram por mentiras e moléstias, que tinha conhecimento de tudo isso, pessoalmente, por Nossa Senhora, durante uma aparição. Mas, no entanto, o coitado do padre, reconhecido inocente, saiu em todos os jornais e na boca de todo mundo, tanto que teve que deixar o ensinamento.

Atentos, portanto, porque existem os pedófilos e hoje em dia, eis o progresso, também uma forte cultura pró-pedofilia veiculada quase que livremente! Mas existem também e em abundância os mitômanos, e aqueles que entenderam depressa que, com certas acusações, se destroem pessoas e se ganha dinheiro fácil.

Tornou-se moda sustentar que os escândalos dos abusos sexuais que atualmente afligem a Igreja, seja a maior crise desde o tempo da reforma protestante. No meu modesto parecer, os problemas dos abusos é somente uma pequeníssima parte da crise muito maior que arrastou a Igreja, depois do Vaticano II, que não foi entendido pela maioria dos Bispos e que se tornou algo de sério para ser consertado.

Abolir o celibato? A última coisa que um padre que abusa de coroinhas necessita e queira é ter uma mulher: Não existe nenhum celibato obrigatório na Igreja Anglicana, mas isto não impediu casos de pedofilia também ali. O problema verdadeiro é que o celibato vai contra a idéia que existe hoje de um sexo “não repressivo”, um sexo “sem preconceito” e a persistente existência do celibato é uma censura para o mundo ocidental hedonista; assim, o Vaticano deve ser persuadido a aboli-lo – como deve abolir a condenação do divórcio, da contracepção, da homossexualidade e de todos os outros fetiches da sociedade liberal.

As vítimas irlandesas ficaram desiludidas com a carta do Papa. Elas estavam desiludidas antes ainda de lê-la, antes que fosse escrita. Qualquer outra resposta diminuiria o poder que podem brandir contra a Igreja. Têm uma legitima razão para reclamar? Na maioria dos casos, sim. Elas têm um feroz ressentimento contra a “sujeira” (termo inventado por Bento XVI muito antes que começasse a pressão da opinião pública) que os ofendeu e os tratou como animais.

Como podia o clero transgredir tão gravemente a doutrina da Igreja? Quais doutrinas? Estes reatos tiveram lugar no sulco do Vaticano II, quando as doutrinas foram jogadas fora como lixo. Uma vez que se desonra o Corpo Místico de Cristo, sujar os coroinhas se torna fácil.

Os Sacramentos e as práticas devocionais “descuidados”; eles foram afrouxados ativamente por Bispos e sacerdotes a favor de pequenas comunidades de base, de confissões comunitárias que não tinham nenhum valor sacramental, da teologia da libertação de cunho marxista. Neste período que vivi inicialmente aqui no Brasil, existia um só pecado mortal na Igreja Católica: ousar olhar para a tradição milenária da Igreja. Um sacerdote que abusasse de um coroinha seria trocado de paróquia, mas para um sacerdote tradicionalista existia somente zombaria e até, se não agüentava, devia procurar-se uma nova Diocese. Nos seminários se ordenavam jovens padres “simpáticos’ que soubessem cantar, dançar e ganhar dinheiro… naturalmente para o bem dos pobres….. Não existia uma catequese séria de cunho doutrinal. Aquela foi uma geração, totalmente ignorante na fé, que na Irlanda alcançou a prosperidade material. Inicialmente eles ainda freqüentavam a Missa (ou aquela que era oferecida como Missa) somente por conformismo social. Depois os abusos sexuais deu aos agnósticos irlandeses a desculpa perfeita para a apostasia: dezena de milhares de pessoas que nunca foram abusadas, nem que conhecessem alguém que tivesse sido abusado, encontraram a desculpa para ficar na cama no domingo de manhã. Devemos confessar com profundo pesar, que foi por culpa da Igreja progressista a perda do significado do domingo como dia do Senhor, como tinha trovejado da Catedral de São Lourenço o então Cardeal Siri. E todos percebemos isso. Assim, hoje em dia, não se vai mais à Missa nem no sábado nem no domingo e, secularizando o domingo, abrimos as portas ao mundo, para não fazer mais descansar os trabalhadores. De fato os patrões se aproveitaram desta brecha para abrir lojas e supermercados também aos domingos, sem nenhuma culpa na consciência.

Os sacerdotes pedófilos não são os únicos a ser hipócritas. “Eu estou tão aborrecido com os escândalos dos abusos sexuais que estou deixando a Igreja”. Mas muito bem. Assim pelo fato de que alguns degenerados – que nunca deveriam ter sido ordenados – abusaram de jovens, significa que o Filho de Deus não veio sobre a terra para redimir a humanidade sobre a Cruz e fundar a Igreja? Este escândalo terrível compromete as verdades de fé mais do que a carreira de Alexandre VI ou de qualquer Papa corrupto da época do Renascimento.

Os Bispos deveriam ser constringidos a se demitir? Certamente, pelo menos 50% deles no mundo inteiro. Bispos, com suas mitras pseudo étnicas, acompanhados por padres que celebram a Eucaristia com indumentária africana e jogando pipoca, outros com paramentos em poliéster, com símbolos  naif que pregam sermões sem sentido algum, prejudicaram a Igreja mais do que os abusos sexuais: extinguiram a fé católica com suas fatuidades modernistas. Esses Bispos deveriam ser presos e fechados em mosteiros e passar o restante de suas vidas pensando como dar conta a Deus de sua missão fracassada e que custou milhões de almas perdidas para eternidade.

Bento XVI deveria aproveitar a vantagem desta onda popular de aversão contra este episcopado falido, para demiti-los; deveria chamar os Núncios Apostólicos e os Presidentes de cada Conferência Episcopal para esclarecer, de uma vez para sempre, as diretrizes a serem tomadas: “tolerância zero”! Seria uma oportunidade única para abater o pastor mercenário e todos aqueles que obstaculizam a “Summorum Pontificum”.

Com razão o presidente do Senado italiano Marcello Pera, em uma carta aberta, escreveu: “Esta guerra ao cristianismo não seria tão perigosa se os cristãos a entendessem Ao contrário, desta incompreensão participam muito deles. São aqueles teólogos frustrados pela supremacia intelectual de Bento XVI. Aqueles Bispos incertos que pensam que um compromisso com a modernidade seria a maneira melhor para atualizar a mensagem cristã. Aqueles Cardeais em crises de fé, que começam a insinuar que o celibato dos sacerdotes não é um dogma e que talvez fosse melhor repensá-lo. Aqueles intelectuais católicos que pensam existir um problema não resolvido entre cristianismo e sexualidade. Aquelas Conferências Episcopais que erram a ordem do dia e enquanto auspiciam a política das fronteiras abertas para todos, não têm a coragem de denunciar as agressões que os cristãos suportam e a humilhação que experimentam em vários lugares do mundo (…) Ou aqueles chanceleres, vindos do leste, que apresentam um belo ministro do exterior homossexual enquanto atacam o Papa sobre qualquer argumento ético, ou aqueles nascidos no Oeste, que pensam que o Ocidente deve ser laico, ou seja, anticristão. A guerra dos laicos continuará, porque um Papa como Bento XVI, que sorri mas que não desvia um milímetro, continua a alimentá-la”.

Penso que chegou o momento de interromper os “mea culpa” e recomeçar com a Apologética, para reconstruir tudo o que foi destruído nestes últimos 40 anos, para enfrentar liberais e secularistas como fizeram muitas gerações de católicos no passado; para proclamar novamente as verdades imutáveis da Única e Verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

Pe. Eugenio Maria, FMDJ

Notícias esparsas

Protesto contra emenda Ibsen chega ao Cristo Redentor. “A estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, passou hoje a servir de outdoor para os protestos do governo fluminense contra a “emenda Ibsen Pinheiro”, que redistribui os recursos de royalties e participações especiais da produção de petróleo e impõe uma perda de R$ 7 bilhões por ano para os cofres do Estado e de 90 cidades fluminenses”.

* * *

A ideologia inumana e totalitária do PNDH-3. “Na própria apresentação do Plano Nacional de Direitos Humanos, o Presidente Lula diz que o PNDH3 é uma ‘opção definitiva’, e um roteiro consistente e seguro, erguido ‘como bandeira’ e apresentado ‘como verdadeira política de Estado’, por suas diretrizes e objetivos estratégicos expostos – cabe ressaltar que eles não estão de brincadeira e irão fazer de tudo para enfiar goela abaixo esse pacote totalitário, com roupagem de democracia”.

* * *

Lefebvriano radical coloca fogo nos documentos do Vaticano II. “Dom Floriano Abrahamowicz – padre expulso da Fraternidade São Pio X – suscita outra polêmica ao colocar fogo no livro que traz os documentos do Concílio Vaticano II depois de uma missa”.

* * *

Austrália reconhece pessoa sem sexo pela primeira vez. “Norrie, de 48 anos, nasceu na Escócia e foi registrado como homem. Aos 23 anos, ele passou por um tratamento hormonal e cirurgias para mudar de sexo, e foi registrado na Austrália como mulher. No entanto, Norrie ficou insatisfeito com a mudança e interrompeu seu tratamento, preferindo denominar-se ‘neutro'”.

* * *

Yoani Sánchez, desencuba! “O povo cubano parece anestesiado, sem brilho no olhar, triste. Miséria não há, mas a pobreza está em toda a parte. As filas e a aparência dos mercados de racionamento são constrangedoras. Os carros antigos deixaram de ser charmosos e hoje circulam precariamente, exalando um forte cheiro de gasolina com querosene, que me fez pensar que bastaria riscar um fósforo para tudo explodir. Os edifícios e as casas carecem de conservação. O transporte público é ineficiente e à noite se vê muita gente pedindo caronas nas ruas escuras de Havana. O turista é visto como uma fonte de renda ambulante, e precisa driblar pequenos golpes ao longo do dia. Com salários mensais em torno de 35 dólares, ou o equivalente a 15 mojitos nos bares de Havana, fica difícil os turistas serem olhados de outra maneira. E a tudo isso, dá-se o nome de ‘ditadura do proletariado’,  termo que tinha ficado adormecido na minha memória, e que foi usado por um taxista que tentou me descrever o regime em Cuba”.

Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt

A Canção Nova traduziu e disponibilizou a segunda catequese de Bento XVI sobre [a] obra de São Boaventura – 10/03/2010. No próprio site do Vaticano, o texto em português não contém a íntegra da catequese papal.

Esta audiência geral foi interessante. Por um lado, o Papa fez questão de afirmar:

[D]epois do Concílio Vaticano II, alguns estavam convencidos de que tudo é novo, que há uma outra Igreja, que a Igreja pré-conciliar é finita e teríamos outra, totalmente diferente. Um utopismo anárquico e, graças a Deus, os sábios timoneiros da barca de Pedro – Papa Paulo VI, Papa João Paulo II – defenderam, por um lado, a novidade do Concílio e, ao mesmo tempo, a unicidade e continuidade da Igreja, que é sempre Igreja de pecadores e sempre um lugar de graça.

Mas, pelo outro lado, e dando título a este post:

Isso não significa que a Igreja seja imóvel, fixa no passado, e não possa exercer novidade alguma. “Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt” [“As obras de Cristo não retrocedem, não são enfraquecidas, mas progridem”], disse o Santo na carta De tribus quaestionibus. Assim, São Boaventura formula explicitamente a ideia de progresso, e essa é uma novidade em comparação aos Padres da Igreja e a grande parte de seus contemporâneos.

Até então, o pensamento central que dominava os Padres era apresentado como cume absoluto da teologia: todas as gerações posteriores somente poderiam ser suas discípulas. Também São Boaventura reconhece os Padres como professores para sempre, mas o fenômeno de São Francisco lhe dá a certeza de que a riqueza das palavras de Cristo é inesgotável, e que também entre as novas gerações podem parecer novas luzes. A unicidade de Cristo também nos garante novidade e renovação em todos os períodos.

Não sei exatamente no que consiste esta “idéia de progresso” à qual faz referência o Papa, nem por que esta seria “uma novidade em comparação aos Padres da Igreja”. Mas gosto de ver a habilidade de Bento XVI: como o Papa, ao mesmo tempo, precisa salvaguardar a permanente fecundidade da Igreja e a Sua eterna estabilidade. Vem-me a mente a expressão de Santo Agostinho, que se refere a Deus mas que se aplica, analogicamente, também à Sua Igreja: “oh Beleza tão antiga e tão nova”. Vem-me a mente a passagem do Evangelho sobre o Reino de Deus (cf. Mt 13, 52), segundo a qual este é como “um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (se bem que os Padres parecem explicar a passagem como sendo referência aos Dois Testamentos). E agradeço a Deus porque Ele prometeu estar conosco, todos os dias, até a consumação dos séculos – e Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre, mas nós somos chamados a ser, a cada dia, mais semelhantes a Ele.

E oremus pro Pontifice nostro Benedicto. Dominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius.

Curtas

Ordo Concelebrationis et ritus servandus, initio quartae sessionis Concilii Oecumenici Vaticani II. As fotos foram feitas pelo Luís Guilherme (aqui e aqui), e a peça se encontra no Mosteiro de São Bento de São Paulo. Citando-o: “Vale a pena reparar que é, quiçá, a primeira concelebração de missa da História, e uma das raras vezes que isso foi feito segundo o missal de 1962”. Acrescento eu: à exceção das missas de ordenação presbiteral onde, mesmo com as rubricas antigas, havia concelebração (salvo engano, era esta única concelebração prevista).

* * *

Por que o comunismo seduz, apesar de tudo? Interessantíssima análise do meu quase conterrâneo, o Taiguara de Sousa, baseada em um livro (que eu não conhecia) de Theodore M. Greene. O comunismo é um “seqüestro”, uma deturpação de anseios legítimos dos homens – e, por isso, seduz. Vale a leitura.

* * *

Texto de Dom Malcolm Ranjith aos seus sacerdotes e fiéis na diocese de Colombo. Vale a leitura completa. Só destaco: “A Eucaristia é a celebração do mistério pascal por excelência dado à Igreja pelo próprio Jesus Cristo. Jesus Cristo é o princípio de toda liturgia na Igreja e por esta razão toda liturgia é essencialmente de origem divina. (…) Este sagrado mistério foi confiado aos apóstolos pelo Senhor e a Igreja cuidadosamente preservou a celebração ao longo dos séculos, dando vida à tradição sagrada e a uma teologia que não cedem à interpretação individual ou privada”.

* * *

– Do Contra o Aborto: Queremos Barrabás! “Passou-se 1 ano do aborto dos gêmeos de Alagoinha. […] Os gêmeos não tiveram voz e nem vez neste mundo. Uma turba composta de ONGs, de mídia, de idiotas úteis gritava a plenos pulmões por sua morte.  É triste ver que após tantos séculos a multidão ainda prefere Barrabás.  Descansem em paz, pequeninos”.

* * *

– Outra do Contra o Aborto: A verdade incomoda. Um outdoor feito por uma entidade pró-vida polonesa – cliquem para ver. A frase: “O aborto para mulheres polonesas foi introduzido por Hitler em 9 de março de 1943”. Parece que algumas pessoas não gostam de lembrar isso.

* * *

– Ainda estamos sofrendo com a Campanha da Fraternidade deste ano, e a CNBB já está divulgando o concurso para a música do hino da CF/2011. A letra já foi escolhida – vejam que maravilha (só excertos):

2. A terra é mãe, é criatura viva;
Também respira, se alimenta e sofre.
É de respeito que ela mais precisa!
Sem teu cuidado ela agoniza e morre.

3. Vê, nesta terra, os teus irmãos. São tantos
Que a fome mata e a miséria humilha.
Eu sonho ver um mundo mais humano,
Sem tanto lucro e muito mais partilha!

Vale salientar que o concurso pede que o caráter geral do hino tenha um “[c]aráter vibrante, vigoroso, ‘energizador'”, capaz de despertar os indivíduos e os grupos “do torpor do egoísmo e do comodismo”. Domine, miserere nobis!