Celebrando o nascimento de S. João Baptista, a Igreja festeja a aurora da Redenção; seis meses antes do Natal, o nascimento do Precursor anuncia o mistério da Incarnação e participa da sua grandeza. Na Idade Média era considerado como que uma espécie de Natal do verão, com três missas como o Natal; a liturgia realça a afinidade das duas festas: basta ler a secreta e a póscomunhão, bem como a antífona do Magnificat das 2as vésperas.
«Profeta do Altíssimo», S. João Baptista é figurado por Isaías e Jeremias. Como eles e melhor do que eles, foi santificado desde o ventre de sua mãe, em virtude da missão que o esperava (intróito, epístola, gradual). O Evangelho recorda os prodígios que assinalaram o seu nascimento: este devia ser causa de grande alegria para muitos: ainda hoje o é, e a Igreja convida todos os anos os fiéis a pedir a Deus, com a graça das alegrias sobrenaturais, a de sermos sempre guiados pelo caminho da eterna salvação (colecta).
O nome de S. João Baptista vem no cânon da missa, à cabeça da segunda lista.
[Missal Romano Quotidiano Latim-Português, por Dom Gaspar Lefebvre e os monges beneditinos de S. André, Bruges-Bélgica. p. 1126]
DE VENTRE matris meae vocavit me Dominus nómine meo: et posuit os meum ut gladium acutum: sub tegumento manus suae protexit me, et posuit me quasi sagittam electam. Ps. Bonum est confiteri Domino: et psallere nomini tuo, Altissime. V. Gloria Patri.
[Introitus da missa de hoje]
São João Batista foi santificado no ventre de sua mãe Santa Isabel – quando a saudação da Virgem Santíssima chegou-lhe aos ouvidos. Este é o primeiro milagre da Virgem Maria registrado nos Evangelhos: garantir que São João pudesse mais tarde merecer de Nosso Senhor aquele grandioso elogio, segundo o qual “entre os nascidos de mulher não há maior que João” (Lc 7, 28a).
Ora, não foi também Nosso Senhor nascido de mulher? Como pode, então, ser verdade que não há maior do que João entre os nascidos de mulher? A segunda parte do versículo ajuda a esclarecer: “Entretanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele” (Lc 7, 28b). Nosso Senhor pertence ao Reino de Deus desde toda a Eternidade e, por conseguinte, é maior do que ele. E assim explica Santo Ambrósio:
Preparó el camino al Señor no sólo cuando iba a nacer según la carne, naciendo antes que El y siendo su precursor, sino también precediéndolo en su gloriosa pasión. Por lo que sigue: “Que preparará tu camino delante de ti”. Pero si Jesucristo es profeta, ¿cómo puede decirse que San Juan es el mayor de los profetas? Fue el más grande entre los nacidos de mujer no virgen. Fue mayor que todos éstos, con quienes pudo igualarse en el modo de nacer. Por lo que sigue: “Por tanto, yo os digo, que entre los nacidos de mujeres, no hay mayor profeta, que Juan el Bautista”.
[in Catena Aurea]
E explica também Isidoro abad (não sei se é Santo Isidoro de Sevilha, ou algum outro que eu não conheça): “También puede decirse que San Juan es el mayor entre los nacidos de mujer, porque ya profetizó desde el vientre de su madre y, cuando todavía estaba en tinieblas, no desconoció la luz que ya había venido”. E isso mais uma vez remete à cena da Visitação que contemplamos todos os dias no Santo Rosário: “Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio” (Lc 1, 44). São João Batista é o maior dos profetas porque profetizou no ventre de Santa Isabel, reconheceu a voz da Mãe de Deus, reconheceu a Luz que havia refulgido nas Trevas quando todo o mundo ainda era Trevas. Quando ainda nem podia falar, já dava testemunho de Nosso Senhor.
E quanto à Virgem Santíssima? Seria por acaso Ela menor do que São João Batista? Decerto que não. Primeiro, porque também Ela pertence ao Reino dos Céus desde a Sua Imaculada Conceição [e, por eleição do Altíssimo, desde toda a Eternidade]; Maria Santíssima foi santificada no ventre da mãe, ainda antes de São João Batista. E, segundo, porque o efeito não pode ser maior do que a sua causa. E quem fez São João Batista profetizar no ventre da sua mãe e reconhecer a Luz que viera ao mundo – quem fez com que São João Batista fosse o maior dentre os nascidos de mulher – foi justamente Maria Santíssima, cuja voz chegou aos ouvidos de Santa Isabel e realizou o primeiro milagre do Novo Testamento: “a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1, 41).
É este milagre que faz com que possamos celebrar a festa de hoje; único santo da Igreja (como já disse aqui) cuja festa é celebrada no dia do seu nascimento e não no da sua morte. Todos os santos nasceram pecadores e tornaram-se santos ao longo de suas vidas; São João Batista teve o singular privilégio – graças à Visitação de Maria Santíssima – de já nascer Filho de Deus. Que ele possa interceder por nós; e que nós possamos escutar a sua voz, a fim de endireitarmos as nossas veredas e bem nos prepararmos para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sancte Ioannes Baptista,
Ora pro nobis!